Chorar é uma dádiva

Quando a noite fria castiga a janela do quarto,
Quando o esfregar da folhas se faz escutar,
Quando a sensação de solidão toma conta do ser,
Chorar é uma dádiva

Quando o silêncio se torna mais alto do quê qualquer voz,
Quando não há mais pra quem falar,
Quando não há mais o que escutar,
Chorar é uma dádiva

Quando a porta de saída fica cada vez mais longe,
Quando o tempo passa com seus infinitos segundos, sem sentido,
Quando a vida se esvai das veias,
Chorar á uma dádiva

Quando a dor é tão grande que nem sequer se pode descrevê-la,
A não ser a mesma palavra triste e profunda,
Já as outras não fazem nenhum sentido, ela por si já fala tudo,
Dor, dor, dor, dor, dor ,dor ,dor ,dor ,dor, dor, dor.........

Dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor,........
Dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor,........
Dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor,........
Dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor,........

Chorar é uma dádiva,
Agradeça quando puder desfrutá-la,
Porque às vezes, só às vezes, até isso lhe é negado.
Chorar então se torna uma necessidade.
Negada!

Perdas & Danos

Parece brincadeira quando as pessoas perguntam.
Parece que não está estampado na cara o sentimento.
Parece não bastar estar deprimido.
Parece que alguém sempre quer nos lembrar disso.

Ergo os olhos com a força das palavras que um dia já usei pra alguém.
Elas não parecem tem forças suficientes para me erguer.
Eis que a cada uma delas hoje encontro refutação.
Em minha memória busco por novas, em vão.

Realmente penso estar ficando louco.
Ridícula essa história de homem sofredor.
Remoendo suas dores pra quem quiser ver.
Relutando contra a fraqueza do próprio ser.

Difícil é uma palavra sem todos os sentidos que deveria ter.
Deixa de fora muitos outros significados que hoje vejo existir.
Dói na consciência a cada vez que alguém, descuidadamente, a pronuncia.
Dói na mente tão cansada de ser incompreendida.

Aliás, incompreensão é algo corriqueiro na nossa época.
Antes poderíamos achar uns poucos marginalizados.
Agora porém vivemos, a cada dia, mais isolados nas nossas ilhas.
Agonizando silenciosamente a espera de algum nativo sexta-feira.

Só louco pra tentar compreender o que faz o homem ser homem.
Sonhos muitos não me contaram o que deveria saber.
Somente, então, sobre minhas velhas feridas abertas.
Sofrimento de poeta é dor lancinante, como perdas insubstituíveis, como danos inrreparáveis.

A Era da Noite

Hoje a noite é escura
Como um buraco negro a vagar pelo espaço
Obscurecendo a vida iluminada de outrora
Fechando as cortinas do existir

Hoje a noite é vazia
Como um saco amassado jogado ao chão
Desprovida de qualquer pensamento produtivo
Sem espaço para o meu viver

Hoje a noite é fria
Como um pólo norte e sul dentro em mim
Levando pra longe toda a sensação de segurança
Jogando-me no frio dos pensamentos desconexos

Hoje a noite é minúscula
Como me mostrando o meu real tamanho
Diminuindo ainda mais o que sou
Encolhendo as minhas chances de viver

Hoje a noite é triste
Como triste nunca foi outrora
Obcecada em se tornar um novo dia
Ansiado pelo raiar de uma nova era de alegria

Hoje a noite é luta
Como um olhar no meio da batalha
Quase desistimos ao perceber o quão grande é o caminho
Mas fazer o quê? A guerra não acabou e não queremos morrer.

Lutemos pelo raiar de um novo tempo.

Dor

De todas as lágrimas que rolam,
Musa inspiradora, dor!

Da vontade de fazer o que não faço,
Regaço ferido, dor!

Do que tenho potencial a fazer,
e sou impedido, dor!

Do sentimento de culpa pela escolha,
Consciência martela, dor!

Do irritante mau humor diário,
Alma abatida, dor!

Das músicas que lembro e logo esqueço,
Fatos que me distraem, dor!

Das dores e pensamentos bipartidos,
Esquizofrenia da alma, dor!

Dúvida dos passos que não dei,
Arrependimento certo, dor!

Alegria dos que de mim falam tortuosidades,
Ferida que sangra, dor!

Projetos, sonhos, anseios e desejos,
realidade da vida, dor!

O quê fazer, como viver,
se tudo o que temos para gozar
é esse sentimento profundo?
Mesmo quando a alegria nos toma
por um momento moribundo.

A cada passo, sorriso ou ação
junto com nossos sonhos
levanta-se também nossa dor
dor antecipada pelo medo de errar,
dor antegozada pela razão do olhar.